Elementais

"Era uma vez Oberón, o Rei dos Elfos, e Titânia, a Rainha das Fadas.
Os dois supremos do Mundo Encantado se odiavam profundamente...
Até o dia em que juraram, um ao outro, amor eterno."

08/06/2014

Elementais - 09

s quatro reis estavam ajoelhados perante seus soberanos.
Titânia chorava silenciosamente, e Oberón parecia estar ainda mais impaciente.
― Por que elas não estão aqui? – Sua voz saiu grave, delatando um grande esforço para não se alterar.
De nada adiantaria, ele sabia disso, mas era difícil conter o seu gênio forte.
― Elas ainda não compreenderam a gravidade da situação, senhor. – Respondeu Paralda serenamente. – Ainda não decifraram a chave que demos a elas.
Titânia soltou um suspiro, chamando a atenção do marido.

02/06/2014

Elementais - 08

s quatro estavam inquietos.
O primeiro deles, um homem alto, de pele negra e corpo forte pelo trabalho na terra, andava de um lado para o outro da clareira.
 ― Gob, assim vai fazer um buraco no chão. – disse o jovem elfo do mar que estava sentado a um simples trono feito de corais. Sua voz era suave e murmurante.
 ― Não me mande ficar calmo, elfo. – esbravejou Gob, fuzilando-o com o olhar. – Sua aluna há muito tempo está pronta. De todos vocês. E precisamos de todas juntas para o Despertar.
 ― Nikse está certo, irmão. – Disse o jovem silfo de rosto fino e pálido. Sua voz era calma, mas ele estava visivelmente preocupado. Gob tinha razão, precisavam dos quatro elementos unidos para que Salamaiter fosse destruído. – Não podemos forçar a situação.
 ― Além do mais, o esquentadinho do grupo sou eu. – Zombou o homem de pele parda e longos cabelos vermelhos como o fogo que estava sentado de modo largado em um trono de pedras vulcânicas. – Vamos dar um jeito, Gob. Não se preocupe.
 ― Mas o inimigo não vai esperar Djin. – Gob sentou-se em seu trono feito de galhos e folhas, afundando o rosto em uma das mãos. Os quatro ficaram em silêncio.
Aquilo era uma corrida contra o tempo e tudo parecia estar caminhando para um rumo incerto.
Sentado tranqüilamente em seu trono de videiras, o belo silfo admirava um rouxinol que acabara de pousar em seu braço. O pássaro trinou suavemente, como se conversasse com ele. – “Ela recebeu o seu presente, meu querido Gob?”
 ― Sim, recebeu... Mas não o abriu. – Gob estava visivelmente cansado.
O silfo mostrou um sorriso delicado para seu irmão Elemental. – Então você deve entregá-lo pessoalmente. – Todos voltaram o olhar para o silfo, como se este tivesse proferido uma maldição, mas ele não se abalou.
 ― Paralda eu... – Começou Gob. – Eu não posso... – O outro apenas sustentou o seu olhar, sorrindo ainda mais. Os dois ficaram um tempo em silêncio, apenas olhando um para o outro, então foi a vez de Gob sorrir. – Você é um gênio, irmão.
Os outros apenas olhavam sem entender.

˜

Os casais continuavam dançando, uma música maravilhosa atrás da outra e Sibelle só havia se levantado para beber algo. Já estava começando a se sentir ridícula. Quase três horas de festa e ninguém havia se aproximado. Não que dançar com um desconhecido fosse importante; de certa forma, ficara aliviada por isso ainda não ter acontecido, mas bem lá no fundo, doía um pouco saber que não chamara a atenção de alguém. Olhou para a própria mão, analisando-a. Não havia nada de errado.
Ou havia?
Era uma mão normal, como qualquer outra mão. Unhas iguais às outras. Não tinha dedos sobrando ou espinhas em seu rosto. De fato, Sibelle era uma menina bonita, uma adolescente como qualquer outra, apenas não via sentido em torrar sua mesada com bolsas e sapatos. Não usava as roupas da moda ou pintava os cabelos. Sibelle era simplesmente Sibelle.
E talvez esse fosse o problema...
Cansada de ficar sentada, levantou-se timidamente, rezando para que ninguém a visse, e caminhou colada à parede, até a porta de entrada, permanecendo parada no meio das quatro deusas, apenas observando o jardim. Era tão grande e bonito. Impecável. Os jardineiros deveriam ter bastante trabalho, principalmente na Primavera.
Ela sentiu o vento soprar suavemente, fazendo balançar as pontas de seu velho vestido verde.
 ― Lindo, não? – Sibelle tomou um susto. Virou-se rapidamente para descobrir quem estava ali e viu um homem mais alto do que ela, de pele negra e parte da face oculta por uma máscara que parecia ser feita de lascas de madeira. Estranho, pois o baile não era um masquerade. Ou será que era? Sibelle já não se lembrava, mas de qualquer forma, suas roupas também eram diferentes. Parecia-se com uma armadura feita de cascas de árvore, que chamava muita atenção, mas aparentemente, ninguém parecia estar interessado. Todos no salão continuavam suas danças mecânicas. Sibelle o olhou e recebeu um sorriso em resposta.
 ― Este jardim é lindo, não acha? – Ele se aproximou dois passos. Ela continuava em silêncio, apenas concordou timidamente.
 ― E você parece gostar muito de plantas, não é? – O homem perguntou gentilmente e a garota assustada apenas mirou-o de canto, seu coração martelando no peito. Olhava nervosamente para os lados, tentando esconder a ansiedade, que o homem acabou por perceber e, para acalmá-la, ofereceu-lhe uma rosa branca que, só depois ela percebeu, ele tirara de lugar nenhum.
 ― Por favor... – ele disse gentilmente. – Eu tenho algo de suma importância para transmitir à senhorita.
Sibelle, temerosa, aceitou a flor, mas não abriu a guarda. O homem fez uma profunda reverência e estendeu-lhe a mão, convidando-a para dançar. Sem entender o que estava acontecendo, a garota aceitou o convite, mesmo que implorasse a seus pés que parassem de se mover, e com o estranho mascarado, dançaram sob a luz da lua.
 ― Por favor, preste atenção, senhorita. – Ele disse seriamente entre os passos rebuscados que Sibelle conseguia acompanhar como se fosse uma profissional. – A senhorita tem uma missão muito importante a cumprir. O Mundo de Mirror está em perigo e somente você e mais três outras garotas corajosas podem nos ajudar.
Sibelle não sabia o que fazer, mas o homem à sua frente cessou a dança e permaneceu parado à sua frente, apenas sustentando o seu olhar e sem se desviar, tirou algo de dentro da capa e depositou na mão da garota. Era uma esfera de vidro, pouca coisa menor que uma bola de tênis e, dentro dela, a terra se movimentava, era como um redemoinho que não tinha começo e não tinha fim.

˜
Estava escuro e um gotejar solitário se ouvia ao longe. Algo se movia sorrateiramente entre os seixos, aproximando-se de uma estranha pedra esculpida em forma de trono, e parecia haver alguém escondido ali.
 ― Meu mestre. Meu mestre. Soube que os reis encontraram carne fresca...
Não obteve resposta, olhou, então, para o espelho que se ostentava à sua frente vendo uma patética cena da garota dançando com o homem mascarado. Apertou os olhos para a imagem que se projetava ali, demorando-se na garota. Conhecia-a de algum lugar. Aqueles longos cabelos castanhos lhes eram estranhamente familiares.

˜
De um sobressalto, Sibelle abriu os olhos assustada. Levou a mão ao rosto e sentiu algo áspero por sobre os olhos, então foi se lembrando; sua máscara.
Máscara? Não pusera máscara alguma. Ou pusera?
O quê?
Olhou para a janela. A enorme lua cheia banhava o quarto com sua claridade perolada e percebeu que ainda estava em sua cama. Caíra no sono e perdera o baile no fim das contas.
Mas não fazia diferença.
Sentou-se corretamente e, ao se espreguiçar, sentiu algo liso e duro em sua mão direita, então olhou para baixo. Entre seus dedos ela pôde ver a pequena esfera que lhe fora dada em seu sonho. Reparou que terra se movia de um lado para o outro. Era loucura, mas sentiu como se ela estivesse gritando. No chão, perto da cama, estavam as folhas que envolviam o presente.
Estava aberto.
Estava em suas mãos.
Estava vivo.