Elementais

"Era uma vez Oberón, o Rei dos Elfos, e Titânia, a Rainha das Fadas.
Os dois supremos do Mundo Encantado se odiavam profundamente...
Até o dia em que juraram, um ao outro, amor eterno."

18/05/2014

Elementais - 07

alvez esse fosse o dia mais esperado pelos veteranos do Instituto Elemental: as Boas-Vindas aos Calouros. Depois de uma semana inteira assistindo a palestras e demonstrações de cursos extracurriculares (Lílieth, de primeira, entrou para a equipe de ginástica olímpica da escola enquanto Cookie se inscreveu para a equipe de natação. Fiona tornou-se parte da orquestra e Sibelle apenas observou os membros do clube do coral se reunir) todos precisavam de um pouco de diversão e o tradicional baile que os recepcionaria estava quase pronto. Todo o salão principal estava decorado com as cores  e as bandeiras da escola. As mesas estavam repletas de todo tipo de petiscos e bebidas geladas.
As novatas se empurravam na frente dos espelhos do banheiro para conseguirem se maquiar, escolhiam o que usar em volta do pescoço ou nos dedos, alisavam seus vestidos, limpavam seus sapatos, enquanto os meninos jogavam conversa fora.
Lilieth jogou os perfeitos cabelos negros para trás, prendendo-os com uma tiara de strass, contrastando com seu vestido preto e vermelho, despertando alguns olhares indiscretos de suas companheiras de quarto. Ela apenas sorriu, pois isso mostrava o quanto era bonita. Logo seria a aluna mais popular e isso era só o que importava. Terminou a sua maquiagem e deu uma última olhada em si, para garantir que tudo saísse perfeito quando, pelo reflexo do espelho, notou algo novo em sua cômoda. Intrigada foi até ela e encontrou um pacotinho embrulhado com folhas de árvores e amarrado com cipó. Estranhou a embalagem um tanto peculiar e abriu com cuidado encontrando lá dentro uma esfera de vidro, com algo que dançava dentro dela.
Era vermelho, translúcido e parecia ter vida própria. Deixou o pacote cair e continuou hipnotizada para a esfera que a seduzia. Ela sentia-se estranha olhando para aquilo, como se fizesse parte dela, de sua alma. Puxou o ar, abrindo levemente os lábios, sentindo palavras se formarem dentro dela.
 ― Lilly, você não vem? – Lílieth quase deixou a esfera cair com o susto, mas conseguiu segurá-la. Olhou para trás e viu suas colegas de quarto que esperavam à porta.
 ― Ah, vou sim! D-desculpem, eu me distraí. – Pegou a caixa de folhas do chão e guardou dentro de sua cômoda, junto com a esfera. – Vamos.

Fiona olhava para sua esfera que, para quem não tivesse olhos treinados, não poderia ver qualquer coisa, mas ela via o ar. Via o rodopio leve, como uma brisa que estava lá dentro. Seus olhos perderam o foco e imagens vieram à sua mente, como lembranças de algo que não tinha vivido. Sua mente anuviou-se por uns instantes, ela perdeu o equilíbrio, segurando-se na coluna de sua cama.
Sua cabeça doía.
Mirou a esfera mais uma vez e ouviu vozes suaves chamando o seu nome. Foi lentamente até a janela e abriu as cortinhas. Lá fora o vento soprava ferozmente, açoitando as folhas das árvores, como se quisesse mostrar sua presença. Ela fechou os olhos e ouviu a música envolvendo-se nela. Ela podia ouvir a sua voz.

Cookie mantinha a esfera a milímetros dos olhos, tentando entender como todo o oceano podia caber dentro de tão pequeno espaço.
As águas se agitavam e debatiam com tanta força que faziam a mão da garota tremer.
― Que... Da hora! – Ela exclamou animada. Só depois de um bom tempo encantada pelo objeto, foi que ouviu suas amigas chamando da porta.
Guardou-o debaixo do travesseiro, arrumou sua máscara azul no rosto e desceu com elas, mas estava ansiosa para descobrir se ouviria o som do oceano, como quando se coloca uma concha no ouvido.

Sibelle, não sabia por que estava vestida para o baile. Ainda estava sentada em sua cama e olhava de canto o pequeno embrulho de folhas e cipós intocado sobre o seu criado-mudo. Também não sabia por que estava naquela escola. Só o que ela queria era ir embora, sumir.

11/05/2014

Elementais - 06


"
as... É pra ter uma biblioteca por aqui! Tem que ter! Não é possível que uma escola tão grande assim não tenha uma biblioteca!" – Cookie andava pelos corredores se perguntando por que raios procuraria uma biblioteca em plena semana de férias, quando poderia estar no seu quarto jogando seu vídeo-game novo. Mas perdeu o foco quando passou por uma porta entreaberta que a atraiu magicamente.
Parou e voltou alguns passos confirmando sua dúvida. Pensara ter ouvido música saindo pela porta e quando espiou, viu uma jovem de longos cabelos louros, quase dourados caídos no meio das costas, tocando um violino, acompanhada por alguém ao piano.
É a menina que eu vi ontem. – Pensou ela animada. Seria uma excelente oportunidade para começar uma amizade. Não precisou aparecer para que a menina notasse a sua presença ali. Foi como se ela tivesse escutado os seus pensamento, parando de tocar e mirando-a tranqüilamente nos olhos.
 ― Olá, bom dia. – ela disse de modo agradável.
O piano parou de tocar também.
 ― Fiona, o que foi? – a voz suave e masculina ecoou pelo palco.
Cookie corou violentamente. – “Eu não queria atrapalhar.” – foi então que percebeu que havia caminhado já para o meio do anfiteatro.
 ― Não atrapalhou. – respondeu a menina com tanta doçura que mais parecia uma princesa de contos de fadas. Virou-se então para o pianista. – Temos platéia, David.
O menino que há pouco tocava levantou-se e foi até Fiona. Ele era, Cookie percebeu corada, alto e esguio. Pálido e de cabelos lisos e castanho-escuro com mechas naturais em cor-de-mel num corte “tigelinha”. Seus olhos âmbar brilhavam por trás das finas e delicadas lentes, quase transparentes e seu sorriso delatava duas covinhas em suas bochechas rosadas.
David olhou para Cookie, sorriu para ela, descendo do palco para cumprimentá-la. – “Olá. Meu nome é David. Como se chama?”
Sua voz era tão doce quanto o mel e Cookie apenas o fitava, não se mexia. Estava hipnotizada por ele.
 ― Oi, tem alguém aí? – O menino ainda sorria para ela de forma angelical.
Fiona olhou para os dois, para Cookie, desviou o olhar e sugeriu um sorriso compreensivo.
 ― Você estava procurando alguém? – ela perguntou docemente, descendo do palco, tentando chamara atenção da garota para si. – Eu me chamo Fiona. Acabei de me transferir para cá. Como se chama?
Cookie olhou para ela, ainda vermelha, agora de vergonha. – “Ah... é... Cookie.”
 ― Que nome diferente. – Mesmo não sendo o melhor comentário feito a uma pessoa, proferido por Fiona, fora quase como um elogio.
Cookie sorriu para ela.
 ― Em que casa está? – David voltou a perguntar, mas Cookie ficou em silêncio novamente, olhando para ele corada. Fiona riu delicadamente como uma fada e aproximou-se, ficando entre os dois. – Somos da casa do Ar, você é de qual casa? – David insistiu.
Mas Cookie continuava calada. Fiona riu e tomou a garota pela mão, caminhando com ela para fora do salão. – “O que você está achando daqui? Este castelo não é cada vez mais fascinante?”
 ― S... sim. – Sua voz voltou assim que sua atenção foi desviada. – É um castelo enorme! E-eu... gosto bastante de arquitetura antiga assim...
 ― Sério? Eu também gosto. Ah, e você sabia que no final da semana vamos ter um baile de boas vindas?
 ― Nós... Vamos?
David não compreendeu o pequeno desconforto causado por ter sido ignorado daquela maneira, mas ainda assim, seguiu-as para tour.

05/05/2014

Elementais - 05


 vento soprava forte e levava as folhas secas embora.
Sibelle chamava, movia os lábios tentando pronunciar um nome, mas voz alguma era ouvida. Ela gritava em silêncio desesperadamente até a noite cair.
Os tons de azul em sua pele aumentavam até ela ser banhada na mais completa escuridão deixando-a sozinha na floresta tão aconchegante para ela, agora tão assustadora.
Ela caiu ao chão, exausta, não sabendo mais o que fazer. O vento açoitava-lhe o rosto e jogava seus longos cabelos em todas as direções. Virou um alvo fácil para folhas e areia, mas ela ainda esperava. Foi quando levantou a cabeça e viu os pontos brilhantes à sua frente. Dois grandes pontos amarelos e brilhantes focando-a de maneira hipnótica que se aproximavam lentamente, rodeando-a. Logo surgiram mais dois. E mais dois.
Assustada, Sibelle começou a correr, mas os pontos brilhantes a seguiam por qualquer lugar que ela fosse.
Os galhos delicados e cheios de flores deram lugar a dedos longos e nodosos, os veios dos troncos se transformaram em carrancas assustadoras enquanto ela corria.
Os pontos brilhantes, e agora já havia bem mais deles, seguiam seu cheiro.
Um clarão.
Um raio rasgou o céu e em seguida tudo desabou.
A tempestade começara, misturando os trovões, a água que caía pesadamente, o rosnar dos lobos que a perseguiam e então uma risada alucinada.
Sibelle tropeçava nas pedras que não conseguia ver, suas roupas enroscavam-se nos galhos e estes cortavam sua pele.
Ela já não sabia por quanto tempo estava correndo. Suas pernas queimavam e já não conseguia mais respirar, e simplesmente foi ao chão, vencida, esperando ser devorada pelos lobos.
Mas nenhum lobo apareceu.
Ela olhou em volta e viu apenas escuridão. Pensou ter visto vultos de duas pessoas mais à frente, mas estava cansada demais para conseguir distinguir alguma coisa, sua vista estava borrada e ela mal conseguia respirar. Abaixou-se novamente encostando a testa na terra molhada da chuva que a cobria também até que ouviu o rosnar dos lobos de olhos de fogo.
Quando levantou a cabeça, descobriu-se cercada por lobos feitos de cinzas e madeira queimada.
Havia alguém atrás dos lobos que rosnavam para ela, famintos, apenas esperando uma ordem.
O vulto estendeu a mão na direção da garota e várias mandíbulas se abriram para ela.
Sibelle transpirava, sentada em sua cama, respirando pesadamente, os primeiros raios de sol despontavam pelas janelas e suas companheiras de quarto dormiam profundamente sob seus lençóis.
Pôs os óculos, olhou para si e respirou aliviada quando se viu intacta, de pijama e inteira.
Tentando se acalmar, lembrou-se do sonho assustador que teve, e lembrou-se de si.
Estava diferente, havia marcas em seu rosto, o cabelo estava adornado com plantas e vestia roupas estranhas, que ela sequer pensaria em usar.
Olhou o relógio de cabeceira; faltava pouco para as seis e ela, com certeza, não conseguiria dormir, com medo de sonhar novamente com os lobos de fuligem e aquele ser estranho que a havia tomado como alimento para eles.
O dia demoraria a raiar...




Os lábios se curvaram num sorriso malicioso. Uma mente fraca é facilmente manipulável, e ela estava cada vez mais suscetível à sua magia. Tudo era uma questão de tempo para que caísse, e então, ir atrás das outras.