alvez esse fosse o dia mais esperado pelos veteranos do
Instituto Elemental: as Boas-Vindas aos Calouros. Depois de uma semana inteira
assistindo a palestras e demonstrações de cursos extracurriculares (Lílieth, de
primeira, entrou para a equipe de ginástica olímpica da escola enquanto Cookie
se inscreveu para a equipe de natação. Fiona tornou-se parte da orquestra e
Sibelle apenas observou os membros do clube do coral se reunir) todos
precisavam de um pouco de diversão e o tradicional baile que os recepcionaria estava
quase pronto. Todo o salão principal estava decorado com as cores e as bandeiras da escola. As mesas estavam
repletas de todo tipo de petiscos e bebidas geladas.
As novatas se empurravam na frente dos espelhos do banheiro
para conseguirem se maquiar, escolhiam o que usar em volta do pescoço ou nos
dedos, alisavam seus vestidos, limpavam seus sapatos, enquanto os meninos
jogavam conversa fora.
Lilieth jogou os perfeitos cabelos negros para trás,
prendendo-os com uma tiara de strass,
contrastando com seu vestido preto e vermelho, despertando alguns olhares
indiscretos de suas companheiras de quarto. Ela apenas sorriu, pois isso
mostrava o quanto era bonita. Logo seria a aluna mais popular e isso era só o
que importava. Terminou a sua maquiagem e deu uma última olhada em si, para
garantir que tudo saísse perfeito quando, pelo reflexo do espelho, notou algo novo
em sua cômoda. Intrigada foi até ela e encontrou um pacotinho embrulhado com
folhas de árvores e amarrado com cipó. Estranhou a embalagem um tanto peculiar
e abriu com cuidado encontrando lá dentro uma esfera de vidro, com algo que
dançava dentro dela.
Era vermelho, translúcido e parecia ter vida própria. Deixou
o pacote cair e continuou hipnotizada para a esfera que a seduzia. Ela
sentia-se estranha olhando para aquilo, como se fizesse parte dela, de sua
alma. Puxou o ar, abrindo levemente os lábios, sentindo palavras se formarem
dentro dela.
― Lilly, você não
vem? – Lílieth quase deixou a esfera cair com o susto, mas conseguiu segurá-la.
Olhou para trás e viu suas colegas de quarto que esperavam à porta.
― Ah, vou sim!
D-desculpem, eu me distraí. – Pegou a caixa de folhas do chão e guardou dentro
de sua cômoda, junto com a esfera. – Vamos.
Fiona olhava para sua esfera que, para quem não tivesse
olhos treinados, não poderia ver qualquer coisa, mas ela via o ar. Via o
rodopio leve, como uma brisa que estava lá dentro. Seus olhos perderam o foco e
imagens vieram à sua mente, como lembranças de algo que não tinha vivido. Sua
mente anuviou-se por uns instantes, ela perdeu o equilíbrio, segurando-se na
coluna de sua cama.
Sua cabeça doía.
Mirou a esfera mais uma vez e ouviu vozes suaves chamando o
seu nome. Foi lentamente até a janela e abriu as cortinhas. Lá fora o vento
soprava ferozmente, açoitando as folhas das árvores, como se quisesse mostrar
sua presença. Ela fechou os olhos e ouviu a música envolvendo-se nela. Ela
podia ouvir a sua voz.
Cookie mantinha a esfera a milímetros dos olhos, tentando
entender como todo o oceano podia caber dentro de tão pequeno espaço.
As águas se agitavam e debatiam com tanta força que faziam a
mão da garota tremer.
― Que... Da hora!
– Ela exclamou animada. Só depois de um bom tempo encantada pelo objeto, foi
que ouviu suas amigas chamando da porta.
Guardou-o debaixo do travesseiro, arrumou sua máscara azul
no rosto e desceu com elas, mas estava ansiosa para descobrir se ouviria o som
do oceano, como quando se coloca uma concha no ouvido.