Elementais

"Era uma vez Oberón, o Rei dos Elfos, e Titânia, a Rainha das Fadas.
Os dois supremos do Mundo Encantado se odiavam profundamente...
Até o dia em que juraram, um ao outro, amor eterno."

08/06/2014

Elementais - 09

s quatro reis estavam ajoelhados perante seus soberanos.
Titânia chorava silenciosamente, e Oberón parecia estar ainda mais impaciente.
― Por que elas não estão aqui? – Sua voz saiu grave, delatando um grande esforço para não se alterar.
De nada adiantaria, ele sabia disso, mas era difícil conter o seu gênio forte.
― Elas ainda não compreenderam a gravidade da situação, senhor. – Respondeu Paralda serenamente. – Ainda não decifraram a chave que demos a elas.
Titânia soltou um suspiro, chamando a atenção do marido.

02/06/2014

Elementais - 08

s quatro estavam inquietos.
O primeiro deles, um homem alto, de pele negra e corpo forte pelo trabalho na terra, andava de um lado para o outro da clareira.
 ― Gob, assim vai fazer um buraco no chão. – disse o jovem elfo do mar que estava sentado a um simples trono feito de corais. Sua voz era suave e murmurante.
 ― Não me mande ficar calmo, elfo. – esbravejou Gob, fuzilando-o com o olhar. – Sua aluna há muito tempo está pronta. De todos vocês. E precisamos de todas juntas para o Despertar.
 ― Nikse está certo, irmão. – Disse o jovem silfo de rosto fino e pálido. Sua voz era calma, mas ele estava visivelmente preocupado. Gob tinha razão, precisavam dos quatro elementos unidos para que Salamaiter fosse destruído. – Não podemos forçar a situação.
 ― Além do mais, o esquentadinho do grupo sou eu. – Zombou o homem de pele parda e longos cabelos vermelhos como o fogo que estava sentado de modo largado em um trono de pedras vulcânicas. – Vamos dar um jeito, Gob. Não se preocupe.
 ― Mas o inimigo não vai esperar Djin. – Gob sentou-se em seu trono feito de galhos e folhas, afundando o rosto em uma das mãos. Os quatro ficaram em silêncio.
Aquilo era uma corrida contra o tempo e tudo parecia estar caminhando para um rumo incerto.
Sentado tranqüilamente em seu trono de videiras, o belo silfo admirava um rouxinol que acabara de pousar em seu braço. O pássaro trinou suavemente, como se conversasse com ele. – “Ela recebeu o seu presente, meu querido Gob?”
 ― Sim, recebeu... Mas não o abriu. – Gob estava visivelmente cansado.
O silfo mostrou um sorriso delicado para seu irmão Elemental. – Então você deve entregá-lo pessoalmente. – Todos voltaram o olhar para o silfo, como se este tivesse proferido uma maldição, mas ele não se abalou.
 ― Paralda eu... – Começou Gob. – Eu não posso... – O outro apenas sustentou o seu olhar, sorrindo ainda mais. Os dois ficaram um tempo em silêncio, apenas olhando um para o outro, então foi a vez de Gob sorrir. – Você é um gênio, irmão.
Os outros apenas olhavam sem entender.

˜

Os casais continuavam dançando, uma música maravilhosa atrás da outra e Sibelle só havia se levantado para beber algo. Já estava começando a se sentir ridícula. Quase três horas de festa e ninguém havia se aproximado. Não que dançar com um desconhecido fosse importante; de certa forma, ficara aliviada por isso ainda não ter acontecido, mas bem lá no fundo, doía um pouco saber que não chamara a atenção de alguém. Olhou para a própria mão, analisando-a. Não havia nada de errado.
Ou havia?
Era uma mão normal, como qualquer outra mão. Unhas iguais às outras. Não tinha dedos sobrando ou espinhas em seu rosto. De fato, Sibelle era uma menina bonita, uma adolescente como qualquer outra, apenas não via sentido em torrar sua mesada com bolsas e sapatos. Não usava as roupas da moda ou pintava os cabelos. Sibelle era simplesmente Sibelle.
E talvez esse fosse o problema...
Cansada de ficar sentada, levantou-se timidamente, rezando para que ninguém a visse, e caminhou colada à parede, até a porta de entrada, permanecendo parada no meio das quatro deusas, apenas observando o jardim. Era tão grande e bonito. Impecável. Os jardineiros deveriam ter bastante trabalho, principalmente na Primavera.
Ela sentiu o vento soprar suavemente, fazendo balançar as pontas de seu velho vestido verde.
 ― Lindo, não? – Sibelle tomou um susto. Virou-se rapidamente para descobrir quem estava ali e viu um homem mais alto do que ela, de pele negra e parte da face oculta por uma máscara que parecia ser feita de lascas de madeira. Estranho, pois o baile não era um masquerade. Ou será que era? Sibelle já não se lembrava, mas de qualquer forma, suas roupas também eram diferentes. Parecia-se com uma armadura feita de cascas de árvore, que chamava muita atenção, mas aparentemente, ninguém parecia estar interessado. Todos no salão continuavam suas danças mecânicas. Sibelle o olhou e recebeu um sorriso em resposta.
 ― Este jardim é lindo, não acha? – Ele se aproximou dois passos. Ela continuava em silêncio, apenas concordou timidamente.
 ― E você parece gostar muito de plantas, não é? – O homem perguntou gentilmente e a garota assustada apenas mirou-o de canto, seu coração martelando no peito. Olhava nervosamente para os lados, tentando esconder a ansiedade, que o homem acabou por perceber e, para acalmá-la, ofereceu-lhe uma rosa branca que, só depois ela percebeu, ele tirara de lugar nenhum.
 ― Por favor... – ele disse gentilmente. – Eu tenho algo de suma importância para transmitir à senhorita.
Sibelle, temerosa, aceitou a flor, mas não abriu a guarda. O homem fez uma profunda reverência e estendeu-lhe a mão, convidando-a para dançar. Sem entender o que estava acontecendo, a garota aceitou o convite, mesmo que implorasse a seus pés que parassem de se mover, e com o estranho mascarado, dançaram sob a luz da lua.
 ― Por favor, preste atenção, senhorita. – Ele disse seriamente entre os passos rebuscados que Sibelle conseguia acompanhar como se fosse uma profissional. – A senhorita tem uma missão muito importante a cumprir. O Mundo de Mirror está em perigo e somente você e mais três outras garotas corajosas podem nos ajudar.
Sibelle não sabia o que fazer, mas o homem à sua frente cessou a dança e permaneceu parado à sua frente, apenas sustentando o seu olhar e sem se desviar, tirou algo de dentro da capa e depositou na mão da garota. Era uma esfera de vidro, pouca coisa menor que uma bola de tênis e, dentro dela, a terra se movimentava, era como um redemoinho que não tinha começo e não tinha fim.

˜
Estava escuro e um gotejar solitário se ouvia ao longe. Algo se movia sorrateiramente entre os seixos, aproximando-se de uma estranha pedra esculpida em forma de trono, e parecia haver alguém escondido ali.
 ― Meu mestre. Meu mestre. Soube que os reis encontraram carne fresca...
Não obteve resposta, olhou, então, para o espelho que se ostentava à sua frente vendo uma patética cena da garota dançando com o homem mascarado. Apertou os olhos para a imagem que se projetava ali, demorando-se na garota. Conhecia-a de algum lugar. Aqueles longos cabelos castanhos lhes eram estranhamente familiares.

˜
De um sobressalto, Sibelle abriu os olhos assustada. Levou a mão ao rosto e sentiu algo áspero por sobre os olhos, então foi se lembrando; sua máscara.
Máscara? Não pusera máscara alguma. Ou pusera?
O quê?
Olhou para a janela. A enorme lua cheia banhava o quarto com sua claridade perolada e percebeu que ainda estava em sua cama. Caíra no sono e perdera o baile no fim das contas.
Mas não fazia diferença.
Sentou-se corretamente e, ao se espreguiçar, sentiu algo liso e duro em sua mão direita, então olhou para baixo. Entre seus dedos ela pôde ver a pequena esfera que lhe fora dada em seu sonho. Reparou que terra se movia de um lado para o outro. Era loucura, mas sentiu como se ela estivesse gritando. No chão, perto da cama, estavam as folhas que envolviam o presente.
Estava aberto.
Estava em suas mãos.
Estava vivo.

18/05/2014

Elementais - 07

alvez esse fosse o dia mais esperado pelos veteranos do Instituto Elemental: as Boas-Vindas aos Calouros. Depois de uma semana inteira assistindo a palestras e demonstrações de cursos extracurriculares (Lílieth, de primeira, entrou para a equipe de ginástica olímpica da escola enquanto Cookie se inscreveu para a equipe de natação. Fiona tornou-se parte da orquestra e Sibelle apenas observou os membros do clube do coral se reunir) todos precisavam de um pouco de diversão e o tradicional baile que os recepcionaria estava quase pronto. Todo o salão principal estava decorado com as cores  e as bandeiras da escola. As mesas estavam repletas de todo tipo de petiscos e bebidas geladas.
As novatas se empurravam na frente dos espelhos do banheiro para conseguirem se maquiar, escolhiam o que usar em volta do pescoço ou nos dedos, alisavam seus vestidos, limpavam seus sapatos, enquanto os meninos jogavam conversa fora.
Lilieth jogou os perfeitos cabelos negros para trás, prendendo-os com uma tiara de strass, contrastando com seu vestido preto e vermelho, despertando alguns olhares indiscretos de suas companheiras de quarto. Ela apenas sorriu, pois isso mostrava o quanto era bonita. Logo seria a aluna mais popular e isso era só o que importava. Terminou a sua maquiagem e deu uma última olhada em si, para garantir que tudo saísse perfeito quando, pelo reflexo do espelho, notou algo novo em sua cômoda. Intrigada foi até ela e encontrou um pacotinho embrulhado com folhas de árvores e amarrado com cipó. Estranhou a embalagem um tanto peculiar e abriu com cuidado encontrando lá dentro uma esfera de vidro, com algo que dançava dentro dela.
Era vermelho, translúcido e parecia ter vida própria. Deixou o pacote cair e continuou hipnotizada para a esfera que a seduzia. Ela sentia-se estranha olhando para aquilo, como se fizesse parte dela, de sua alma. Puxou o ar, abrindo levemente os lábios, sentindo palavras se formarem dentro dela.
 ― Lilly, você não vem? – Lílieth quase deixou a esfera cair com o susto, mas conseguiu segurá-la. Olhou para trás e viu suas colegas de quarto que esperavam à porta.
 ― Ah, vou sim! D-desculpem, eu me distraí. – Pegou a caixa de folhas do chão e guardou dentro de sua cômoda, junto com a esfera. – Vamos.

Fiona olhava para sua esfera que, para quem não tivesse olhos treinados, não poderia ver qualquer coisa, mas ela via o ar. Via o rodopio leve, como uma brisa que estava lá dentro. Seus olhos perderam o foco e imagens vieram à sua mente, como lembranças de algo que não tinha vivido. Sua mente anuviou-se por uns instantes, ela perdeu o equilíbrio, segurando-se na coluna de sua cama.
Sua cabeça doía.
Mirou a esfera mais uma vez e ouviu vozes suaves chamando o seu nome. Foi lentamente até a janela e abriu as cortinhas. Lá fora o vento soprava ferozmente, açoitando as folhas das árvores, como se quisesse mostrar sua presença. Ela fechou os olhos e ouviu a música envolvendo-se nela. Ela podia ouvir a sua voz.

Cookie mantinha a esfera a milímetros dos olhos, tentando entender como todo o oceano podia caber dentro de tão pequeno espaço.
As águas se agitavam e debatiam com tanta força que faziam a mão da garota tremer.
― Que... Da hora! – Ela exclamou animada. Só depois de um bom tempo encantada pelo objeto, foi que ouviu suas amigas chamando da porta.
Guardou-o debaixo do travesseiro, arrumou sua máscara azul no rosto e desceu com elas, mas estava ansiosa para descobrir se ouviria o som do oceano, como quando se coloca uma concha no ouvido.

Sibelle, não sabia por que estava vestida para o baile. Ainda estava sentada em sua cama e olhava de canto o pequeno embrulho de folhas e cipós intocado sobre o seu criado-mudo. Também não sabia por que estava naquela escola. Só o que ela queria era ir embora, sumir.

11/05/2014

Elementais - 06


"
as... É pra ter uma biblioteca por aqui! Tem que ter! Não é possível que uma escola tão grande assim não tenha uma biblioteca!" – Cookie andava pelos corredores se perguntando por que raios procuraria uma biblioteca em plena semana de férias, quando poderia estar no seu quarto jogando seu vídeo-game novo. Mas perdeu o foco quando passou por uma porta entreaberta que a atraiu magicamente.
Parou e voltou alguns passos confirmando sua dúvida. Pensara ter ouvido música saindo pela porta e quando espiou, viu uma jovem de longos cabelos louros, quase dourados caídos no meio das costas, tocando um violino, acompanhada por alguém ao piano.
É a menina que eu vi ontem. – Pensou ela animada. Seria uma excelente oportunidade para começar uma amizade. Não precisou aparecer para que a menina notasse a sua presença ali. Foi como se ela tivesse escutado os seus pensamento, parando de tocar e mirando-a tranqüilamente nos olhos.
 ― Olá, bom dia. – ela disse de modo agradável.
O piano parou de tocar também.
 ― Fiona, o que foi? – a voz suave e masculina ecoou pelo palco.
Cookie corou violentamente. – “Eu não queria atrapalhar.” – foi então que percebeu que havia caminhado já para o meio do anfiteatro.
 ― Não atrapalhou. – respondeu a menina com tanta doçura que mais parecia uma princesa de contos de fadas. Virou-se então para o pianista. – Temos platéia, David.
O menino que há pouco tocava levantou-se e foi até Fiona. Ele era, Cookie percebeu corada, alto e esguio. Pálido e de cabelos lisos e castanho-escuro com mechas naturais em cor-de-mel num corte “tigelinha”. Seus olhos âmbar brilhavam por trás das finas e delicadas lentes, quase transparentes e seu sorriso delatava duas covinhas em suas bochechas rosadas.
David olhou para Cookie, sorriu para ela, descendo do palco para cumprimentá-la. – “Olá. Meu nome é David. Como se chama?”
Sua voz era tão doce quanto o mel e Cookie apenas o fitava, não se mexia. Estava hipnotizada por ele.
 ― Oi, tem alguém aí? – O menino ainda sorria para ela de forma angelical.
Fiona olhou para os dois, para Cookie, desviou o olhar e sugeriu um sorriso compreensivo.
 ― Você estava procurando alguém? – ela perguntou docemente, descendo do palco, tentando chamara atenção da garota para si. – Eu me chamo Fiona. Acabei de me transferir para cá. Como se chama?
Cookie olhou para ela, ainda vermelha, agora de vergonha. – “Ah... é... Cookie.”
 ― Que nome diferente. – Mesmo não sendo o melhor comentário feito a uma pessoa, proferido por Fiona, fora quase como um elogio.
Cookie sorriu para ela.
 ― Em que casa está? – David voltou a perguntar, mas Cookie ficou em silêncio novamente, olhando para ele corada. Fiona riu delicadamente como uma fada e aproximou-se, ficando entre os dois. – Somos da casa do Ar, você é de qual casa? – David insistiu.
Mas Cookie continuava calada. Fiona riu e tomou a garota pela mão, caminhando com ela para fora do salão. – “O que você está achando daqui? Este castelo não é cada vez mais fascinante?”
 ― S... sim. – Sua voz voltou assim que sua atenção foi desviada. – É um castelo enorme! E-eu... gosto bastante de arquitetura antiga assim...
 ― Sério? Eu também gosto. Ah, e você sabia que no final da semana vamos ter um baile de boas vindas?
 ― Nós... Vamos?
David não compreendeu o pequeno desconforto causado por ter sido ignorado daquela maneira, mas ainda assim, seguiu-as para tour.

05/05/2014

Elementais - 05


 vento soprava forte e levava as folhas secas embora.
Sibelle chamava, movia os lábios tentando pronunciar um nome, mas voz alguma era ouvida. Ela gritava em silêncio desesperadamente até a noite cair.
Os tons de azul em sua pele aumentavam até ela ser banhada na mais completa escuridão deixando-a sozinha na floresta tão aconchegante para ela, agora tão assustadora.
Ela caiu ao chão, exausta, não sabendo mais o que fazer. O vento açoitava-lhe o rosto e jogava seus longos cabelos em todas as direções. Virou um alvo fácil para folhas e areia, mas ela ainda esperava. Foi quando levantou a cabeça e viu os pontos brilhantes à sua frente. Dois grandes pontos amarelos e brilhantes focando-a de maneira hipnótica que se aproximavam lentamente, rodeando-a. Logo surgiram mais dois. E mais dois.
Assustada, Sibelle começou a correr, mas os pontos brilhantes a seguiam por qualquer lugar que ela fosse.
Os galhos delicados e cheios de flores deram lugar a dedos longos e nodosos, os veios dos troncos se transformaram em carrancas assustadoras enquanto ela corria.
Os pontos brilhantes, e agora já havia bem mais deles, seguiam seu cheiro.
Um clarão.
Um raio rasgou o céu e em seguida tudo desabou.
A tempestade começara, misturando os trovões, a água que caía pesadamente, o rosnar dos lobos que a perseguiam e então uma risada alucinada.
Sibelle tropeçava nas pedras que não conseguia ver, suas roupas enroscavam-se nos galhos e estes cortavam sua pele.
Ela já não sabia por quanto tempo estava correndo. Suas pernas queimavam e já não conseguia mais respirar, e simplesmente foi ao chão, vencida, esperando ser devorada pelos lobos.
Mas nenhum lobo apareceu.
Ela olhou em volta e viu apenas escuridão. Pensou ter visto vultos de duas pessoas mais à frente, mas estava cansada demais para conseguir distinguir alguma coisa, sua vista estava borrada e ela mal conseguia respirar. Abaixou-se novamente encostando a testa na terra molhada da chuva que a cobria também até que ouviu o rosnar dos lobos de olhos de fogo.
Quando levantou a cabeça, descobriu-se cercada por lobos feitos de cinzas e madeira queimada.
Havia alguém atrás dos lobos que rosnavam para ela, famintos, apenas esperando uma ordem.
O vulto estendeu a mão na direção da garota e várias mandíbulas se abriram para ela.
Sibelle transpirava, sentada em sua cama, respirando pesadamente, os primeiros raios de sol despontavam pelas janelas e suas companheiras de quarto dormiam profundamente sob seus lençóis.
Pôs os óculos, olhou para si e respirou aliviada quando se viu intacta, de pijama e inteira.
Tentando se acalmar, lembrou-se do sonho assustador que teve, e lembrou-se de si.
Estava diferente, havia marcas em seu rosto, o cabelo estava adornado com plantas e vestia roupas estranhas, que ela sequer pensaria em usar.
Olhou o relógio de cabeceira; faltava pouco para as seis e ela, com certeza, não conseguiria dormir, com medo de sonhar novamente com os lobos de fuligem e aquele ser estranho que a havia tomado como alimento para eles.
O dia demoraria a raiar...




Os lábios se curvaram num sorriso malicioso. Uma mente fraca é facilmente manipulável, e ela estava cada vez mais suscetível à sua magia. Tudo era uma questão de tempo para que caísse, e então, ir atrás das outras.

27/04/2014

Elementais - 04


as cinco torres existentes no castelo, apenas quatro eram destinadas aos dormitórios dos alunos; Torre Norte, Torre Sul, Torre Leste e Torre Oeste. A Torre Central, como os alunos descobriram mais tarde, era utilizada para as aulas de astronomia.
Depois do almoço, todos os alunos foram explorar o seu novo lar.
Fiona encantou-se com a sala de música, Cookie contemplou as piscinas e teve de se segurar para não arrancar as roupas no mesmo instante e dar um mergulho. Ela amava nadar. Lílieth tomou um caminho parecido, porém entrou nos ginásios e admirou os artigos para ginástica olímpica.
Sibelle encontrou o que queria. Achou o pomar e sentiu-se em casa, sorriu como há muito não sorria e o vento soprou com força, fazendo-a sentir vontade de cantar. Então seus lábios se encolheram outra vez.
Conheceram também a vasta biblioteca, os jardins, as salas de aula e seus novos quartos.
 ― O quarto é lindo, querida. – disse a mãe de Fiona quando viu as cinco camas de dossel e cortinado dispostas ao redor do amplo espaço circular. Uma pequena cômoda de madeira escura à frente de cada cama acomodaria os pertences de cada aluno.
― Vou dividir o quarto com mais quatro meninas. – Ela olhou em volta radiante. – Parece que eu cheguei primeiro. Será que posso escolher alguma cama?
― Vá em frente, querida. – sua mãe incentivou balançando suavemente as mãos.
― Todas as camas estão perto de alguma janela... Acho que vou ficar com esta. – disse, colocando sua mala de mão sobre a cama de frente para a porta. – assim eu posso conversar com todas as outras.
― E quando vai estudar? – Ela pôs as mãos na cintura.
― Quando for à biblioteca. – Sua mãe sorriu com a resposta. – Não se preocupe. Eu estarei bem. Vou telefonar, escrever e prometo que nada vai atrapalhar os meus estudos.
Sua mãe a abraçou com força. – “Vou sentir falta da minha menininha.”
― Mãe... ta chorando? – Fiona a afastou.
― Ah, querida. É difícil deixar a sua filha única em um lugar tão longe. Não poderei lhe dar beijos de boa-noite durante muito tempo.
Fiona riu. – O que vai acontecer com você quando eu me casar?
― Você não vai se casar. Seu pai e eu vamos impedir que cresça. – sua mãe respondeu entre um riso e um chorinho.
― Precisa me deixar crescer, mãe.
― Eu sei, querida. Eu sei. – Ela limpou o rosto com as costas da mão e olhou bem para a menina. – Você é uma Princesa, sabia disso?
― Eu sei, mãe. Sou a sua princesinha. E do papai.
Sua mãe sorriu conformada e a abraçou mais uma vez. – “Agora eu preciso ir. Faça muitos amigos aqui.”

― Obrigada por tudo, mãe. - Lílieth respirou fundo e abraçou sua mãe, que chorava.
― Minha filha está crescendo. – Fungou discretamente e a abraçou saudosamente. – prometa que vai manter contato.
― Claro que eu vou. – Lílieth riu e apertou a mãe contra si. – Agora preciso me instalar. Vou pra casa na sexta à noite, prometo.
A mulher rechonchuda limpou as lágrimas com um lencinho e sorriu para a menina, soluçou apenas uma vez, respirou fundo e soltou o ar, deixando a filha e indo para o carro.

― Cuide-se bem, filha. Não fique perambulando por aí e estude direito!
― Ceeeeerto, mãe. – Cookie abraçou a mãe demoradamente, então a deixou entrar no carro.
― Espero que demore para eu receber reclamações suas. – Ela disse afivelando o cinto e arrumando os óculos escuros no rosto.
― E eu espero que não. – a menina mostrou a língua. – gosto de gente com senso de humor.
Sua mãe apenas balançou a cabeça conformada e deu partida no carro. – “Cuide-se, querida. Mamãe te ama.”
― Também te amo, mãe. Manda um beijo pro papai. – Cookie a beijou, e sua mãe se foi.

Sibelle terminou de guardar suas roupas na cômoda em frente à sua cama e sentou-se olhando o quarto vazio. Suspirou silenciosamente e resolveu deitar-se, já que não tinha de quem se despedir.

20/04/2014

Elementais - 03

 sombra de olhos frios mirava o grande espelho preso na parede de pedra e não gostava do que se refletia ali.
O tempo estava passando rápido demais, e alguma coisa deveria ser feita. A Princesa estava ali e precisava ser destruída, mas quem seria ela? Atacar de uma vez não parecia uma boa ideia. Sabia que havia guardas em toda parte, precisava ser prudente.
Olhou para a tela e fez uma escolha.
Eram apenas humanas, não eram? Não fariam falta, de qualquer forma.
Sim... Começaria pela mais fraca.

O salão principal estava cheio e animado como acontecia todo começo de ano. Veteranos, calouros e pais confraternizavam. Todos se apertavam nas mesas e aproveitavam o farto almoço.
Lílieth torcia o nariz para quase tudo que estava à sua frente e tentava procurar todos os pratos menos gordurosos nas outras mesas.
 — Filha, pare. Que coisa feia. – sua mãe a cutucou levemente com o cotovelo.
 — Ta tudo errado mãe. Frango frito? Não tem nada saudável por aqui. Preciso manter a minha forma.
 — E você vai, querida, acontece que só hoje comendo uma coisinha fora do seu cardápio verde não vai te impedir de manter o ritmo na ginástica.
Lílieth remexeu as alfaces em seu prato.
 — Tenho medo de me viciar, você sabe. - Murmurou
 — Não vai querida. Não se preocupe. Olha, tem paella. Eu sei que você gosta. Pega um pouquinho.
A garota fez um muxoxo e timidamente pegou uma pequena colherada.
Não muito distante das duas, Cookie comia feliz, quase sem mastigar, fazendo sua mãe ficar roxa de vergonha.
 — Filha, coma devagar! Desse jeito vai ter uma indigestão!
 — Eu não tenho indigestão, mãe! E mal posso esperar pela sobremesa! – ela respondeu atacando uma imensa fatia de picanha no seu prato quando seus olhos azuis captaram um movimento peculiar ao seu lado. Olhou para a grande porta do salão e viu uma garota entrando solitária, de cabeça baixa, olhando para seus pés. Ela parou apenas observando as mesas, procurando um lugar vazio para sentar. Cookie tencionou levantar a mão para chamá-la, mas não foi rápida o suficiente. Uma garota de longos cabelos louros aproximou-se dela e a puxou pelo pulso para sentar-se com ela, e Cookie pôde perceber que a garota solitária a seguiu hesitante. Viu que a loira tentava puxar conversa com a garota, que quase não se movia.
Tentaria conversar com elas mais tarde, pareciam ser pessoas bacanas, e se a solitária tinha medo de se enturmar, Cookie mudaria isso.

13/04/2014

Elementais - 02

s dois jovens guerreiros postavam-se ajoelhados perante os reis de Mirror.
O primeiro tinha os cabelos castanhos da cor da terra molhada que lhe caíam desfiados sob os ombros cobertos de folhas de outono, juntas, formando sua roupa. A pele da cor da canela e aveludada como ela. Os olhos amendoados e negros demonstravam o amor pelo seu reino, e a devoção e lealdade para com seus reis.
O segundo tinha os cabelos dourados como o Sol, longos, abaixo dos quadris, lisos e sedosos como os de todos os Elfos da Floresta. Vestia-se com tecidos e cores leves como a brisa, em tons de azul, e variantes do amarelo-claro. Tinha a pele sedosa como as rosas em botão e os olhos azuis translúcidos e tranqüilos, como se o pavor que assolava seu mundo não fosse preocupante.
Oberón segurava a mão de sua esposa, que chorava silenciosamente. Suas feições eram de tensão e preocupação.
 — Morag, aluno mais brilhante de Gob, o rei dos Duendes. – ele disse, e o jovem de cabelos escuros confirmou silenciosamente que o ouvia. – sua missão, assim como a sua, Ëmmar, - e o jovem de cabelos de sol confirmou sua atenção. – é encontrar e proteger a Princesa, nossa filha. Sigam-na, mas sejam invisíveis, não deixem que nada de mal aconteça a ela. – Os dois jovens assentiram solenemente. Oberón pareceu satisfeito, mas Titânia suspirou longa e ruidosamente.
 — Não temas, minha estimada Senhora. – Oberón tocou-lhe delicadamente o rosto. – Nossa filha está segura no mundo dos mortais, longe do medo em que vivemos.
 — Eu sei, meu rei. Mas não o angustia não ver vossa filha crescer e rir? – ela voltara para ele seus magníficos olhos de jade brilhando pelas lágrimas eminentes. – Não é de vosso desagrado saber que nossa princesa não tem conhecimento de suas verdadeiras terras?
 — Estou ciente disso, minha Senhora. Há muito sinto-me triste por ter-me privado do imenso amor que gostaria de dar à nossa filha. Mas fizemos o que era necessário fazer. Mirror está morrendo, e só podemos esperar que ela esteja em segurança e que possa algum dia, retornar e ver este mundo belo, como realmente era.



Fiona espirrou. Sua mãe a olhou e estendeu-lhe um lenço.

 — Está se resfriando, querida?
 — Não, mãe. – respondeu a menina. – Acho que deve ser o pólen. Estamos entrando na primavera, e tem muitas plantas por aqui.
A mulher olhou de volta para a entrada. – “Sim, tem razão. Veja como são lindas aquelas flores.”
Uma mulher passou por elas, na direção apontada pela mãe de Fiona.
 — Sibelle... ENTRA!
Sibelle engoliu em seco e seguiu apressada para dentro.
Fiona e sua mãe se olharam. Acompanharam toda a cena; a menina passando de cabeça baixa, acompanhando a mulher até o balcão de informações. A funcionária que gesticulou, entregou alguns papéis e uma senha. As duas que foram se sentar em um banco de espera para preencher os papéis.
Fiona olhou bem a menina. Pensou tê-la visto tremer um pouco ao pegar os papéis das mãos da senhora, mas voltou sua atenção para o formulário à sua frente.
Cookie voou da entrada até o balcão vazio. Sua mãe caminhou até ela calmamente e parou ao seu lado.
 — Viu como não adiantava correr daquele jeito? – a mulher elegante tirou os óculos escuros e usou-os como tiara.
 — Mas peguei o balcão vazio – ela estava sem fôlego. Sua mãe bufou e conversou com a funcionária.
Ao seu lado, Lílieth devolvia o seu formulário e pegava uma chave com um chaveiro de coração vermelho.
 — Seu quarto fica na ala Sul. Aqui está o seu mapa. Pode explorar a escola. Ao meio-dia será servido um almoço de boas-vindas no salão principal, aqui. – disse apontando o lugar no mapa. – Não tem como errar. Tem uma grande Rosa dos Ventos no chão.
 — Obrigada. – Lílieth recolheu as coisas, pôs a chave na bolsa junto com as outras chaves e seguiu com sua mãe para dentro do castelo.
Fiona olhou para ela e para as outras meninas sentadas respondendo aos formulários. Reparou que Sibelle tinha os ombros levantados mais do que o normal, sua mãe estava com os lábios contraídos. Não soube porquê, mas sentiu uma grande compaixão por ela. Suspirou tristemente, então olhou para Cookie, do outro lado do saguão. Ria e respondia aos formulários com a mãe. Sorriu solenemente para ela, mesmo a outra garota não tendo visto.
Ela queria fazer amigos ali, e sabia com quem começar.

06/04/2014

Elementais - 01

"
que te aflige, minha estimada Senhora?” – Perguntou Oberón. Titânia, que estava sentada em seu trono de vinhas e flores perfumadas olhou-o. – “Meu querido Oberón, o tempo urge! Salaiater jurou vingança, e apenas nossos esforços não são capazes de detê-lo.” – Ela parecia triste, abatida. Seus olhos cor-de-jade brilhavam por não saber o que fazer. – “Temo pela segurança de...”

— Não tema, minha querida Titânia. Não deixarei que nada de mal aconteça a ti. Nem a ninguém. – Oberón segurou as mãos dela com carinho. Era um homem forte, alto, longos cabelos lisos e negros. Tinha o rosto jovem e delicado como o da maioria dos elfos da floresta. Seu peitoral definido estava nu sob o manto vermelho. As manoplas douradas adornadas com pequenas safiras pesavam em seus pulsos. Usava calças marrons e botas de couro. Seus olhos azuis estavam pensativos, perante a preocupação da esposa.
— Não quero que nenhum mal aconteça a ela, meu querido marido. Temo por toda Mirror, mas também temo pela vida dela.
— Não se preocupe minha querida. Ela estará a salvo. Mas precisaremos mandá-la para o Mundo Humano.
As lágrias se projetaram nos olhos cristalinos de Titânia e Oberón a abraçou, acalentando seus soluços singelos. – “Não chores, minha Rainha. É o melhor para ela. Crescer entre os humanos, longe das intenções malignas de Salamaiter. Nós poderemos vigiá-la, e...” – ele mesmo segurou um soluço e falou com a voz embargada. – “Nossa filha não crescerá no meio da guerra.”


Lílieth acordou particularmente feliz aquele dia, pois estava de mudança. Era a última semana de férias escolares e sua antiga escola lhe faria muita falta, mas uma vida nova a esperava. Aos pés da cama, a grande mala ainda estava aberta e sobre a escrivaninha, uma longa lista do que nela continha, apenas esperando para ser conferida uma última vez.
Saiu de sua cama alegremente. Olhou-se no espelho e inspirou o ar de felicidade, quente como o verão que ainda não havia chegado.
Era linda, e sabia disso. Os cabelos curtos, lisos, negros, brilhantes e perfeitos emoldurando o rosto delicado, de pele macia e sem qualquer marca de espinha. Era de estatura baixa, tinha o corpo pequeno, o que já lhe rendera vários troféus de ginástica olímpica, sua paixão.
Chegou à cozinha pequena e encontrou sua mãe terminando de arrumar um farto café da manhã.
 — O que é tudo isso? – perguntou uma Lílieth sorridente sentando-se em seu lugar à mesa.
 — Uma comemoração. – Cantarolou sua mãe, colocando uma jarra de suco sobre uma base de cortiça. – Segunda posição em uma prova tão difícil como aquela, eu não poderia esperar nada melhor. Coma direitinho e pegue suas coisas.
Lílieth respirou fundo e sorriu radiante, vendo sua mãe sentando-se à sua frente. A sombra que a observava por trás da cortina da janela sorriu triunfante e sumiu envolto em chamas.

Fiona terminou de tomar café, dobrou o guardanapo e o deixou sobre a mesa. Levantou-se e seguiu para o banheiro. Penteou os longos cabelos dourados para trás, prendeu-os com uma simples tiara, seguiu para seu quarto para terminar de arrumar as suas coisas.
 — Fiona, querida. – sua mãe deu leves batidinhas na porta aberta.
 — Sim, mamãe?
 — Pronta? Quero chegar cedo para que não precise fazer tudo correndo.
Fiona terminava de guardar carinhosamente o violino que herdara de seu avô. Levantou-se e sorriu para a mãe. – “Já estou acabando, mamãe. Tenho certeza de que não vamos nos atrasar.”
O vento soprou suavemente pela janela aberta, fazendo balançar os cabelos leves da menina, e a sombra que estava na sacada sorriu e sumiu com a brisa.

 — Carlota! Vamos nos atrasar! – uma mulher loura toda arrumada esperava apoiada em seu carro do último ano, com a porta do motorista aberta. Uma garota de aparentes 13 anos vinha correndo da porta do elevador, passando pelos outros carros. – “Carlota, não, mamãe. É ‘Cookie’!” – Também loura, de cabelos ondulados e na altura dos ombros, com mechas azuis
 — Nada disso! Não vou te chamar de apelido comestível! Agora entra no carro, senão a gente se atrasa!
 — Escola nova no meio das férias, ninguém merece! – Carlota esticou os pés sobre o painel do carro enquanto sua mãe o manobrava para fora da garagem.
 — Tire os pés do meu painel, mocinha. Seu pai vive fazendo isso também. Que hábito horrível.
Carlota fez um bico, sentou-se corretamente. – “Eu não entendi como foi que eu passei nesse vestibular... eu nem estudei direito...”
 — Às vezes, filha, nem é uma escola tão boa assim. Tem certeza de que quer sair da sua escola?
 — Não sei... – disse colocando distraidamente os pés no painel do carro.
 — Já mandei tirar os pés do painel, Carlota!
 — Ai, ta boommm... – botou os pés para baixo meio que a contragosto e olhou pela janela. Etavam passando por um grande lago em cujo centro, uma ilhota flutuava singelamente. A menina pensou ter visto algo brilhando perto da ilha, não um reflexo do Sol, mas alguma coisa diferente. Não desgrudou os olhos do lago até as árvores tomarem conta do caminho para a nova escola.
Quem a observava sorriu, mergulhou na água sem fazê-la se mover, tornando-se parte dela, e desapareceu.

O carro simples e preto adentrou um longo estacionamento do lado de fora do imenso castelo. Uma mulher de cabelos castanhos com luzes douradas saiu do carro e olhou o lugar. – “Anda, Sibelle, sai daí.”
Uma menina de aparentes 13 anos saiu do carro, com seus longuíssimos cabelos castanhos, seus grandes óculos e sua feição melancólica. Olhou para cima, para a maravilhosa arquitetura, suspirou longa e tristemente e seguiu a mãe em direção à entrada. Logo no hall havia quatro colunas sustentando o teto e em cada coluna havia uma estátua de uma mulher em tamanho natural, vestidas com algo semelhante a túnicas gregas.
A primeira era de uma sereia de cabelos longos, a cauda enrolada no pilar o corpo projetado para frente com as mãos estendidas, unidas como se oferecessem um pouco de água a alguém. A segunda era uma linda mulher com os cabelos caídos nos ombros, as mãos frente ao peito, como se rezasse, um dos joelhos estava dobrado. A mulher seguinte tinha os cabelos longos até o quadril amarrado em um simples rabo-de-cavalo e enrolado em vinhas desde o topo da cabeça. Estava ereta, com a mão direita erguida e espalmada para o céu, o braço esquerdo colado ao corpo, com a mão espalmada para o chão. A última mulher também estava ereta, a mão direita levemente esticada para frente, como se oferecesse algo, assim como a Sereia, tinha os cabelos pouco abaixo dos ombros e um olhar misterioso, apesar de ter os olhos isentos de íris, assim como as demais. Todas tinham marcas pelo corpo, marcas estranhas; riscos, setas, espirais. Sibelle parou diante da mulher de cabelos amarrados com vinhas, hipnotizada por aquela figura. Apesar de a estátua estar de olhos fechados, eles queriam lhe dizer alguma coisa, mas ela não conseguia identificar.
Terra, foi o que pensou, ela simboliza a terra. Não soube por que teve aquele pensamento, balançou a cabeça para se libertar daquela ideia boba, eram apenas estátuas. Algo chamou sua atenção logo ao lado. Parecia que havia alguém ali, atrás das plantas e deu o primeiro passo em direção a elas, quando sua mãe apareceu na entrada com a cara fechada.
 — Sibelle... ENTRA!
Sibelle engoliu em seco e seguiu para dentro.

30/03/2014

Prólogo

A lua cheia iluminava a terra virgem, quando algo despontou onde deveria ser bem o meio.
As gavinhas saíam do chão e se trançavam pelo espaço aberto, se transformando em uma grande teia.
Uma sombra correu em meio àquele caos, seguida de outra e mais outra.
Os vultos pequeninos cavoucavam fervorosamente o chão, enquanto maiores dançavam em sincronia ao seu redor.
Sombras esguias cruzaram a face da Lua e agarraram os cipós que se esticaram para o alto, voando em todas as direções, fazendo um trançado rebuscado, em curvas, círculos e molduras.
Àquele estranho jogo ao luar, algo estava sendo construído. Todos trabalhavam incansavelmente para que, o que quer que fosse, se erguesse rapidamente.
A construção tomava formas mais nítidas em pouco tempo e uma torre podia ser reconhecida, em seguida outra e mais duas. Muros altos e extensos envolviam a floresta ao redor a abraçava o lago na outra ponta.
O castelo estava quase terminado. Erguia-se majestoso aos primeiros raios de Sol, as plantas retorcidas empapadas com o barro do fundo do rio se prendiam umas às outras com firmeza. Então todos se afastaram para admirar o que estava feito e das sombras mais escuras, surgiram seres franzinos e de cabelo espetado, aproximando-se lentamente. Eram vários deles, o suficiente para rodear o local, ficando muito próximos uns dos outros.
Elas levantaram as mãos, e foi quando o fogo começou.
Intenso, ele se confundia com o céu do amanhã e coroava o Sol
Tudo ali, que dera tanto trabalho, agora estava se destruindo e os demais não faziam nada para impedir.
Era o fim.
Até que, de dentro do lago, bem no meio do fogo, um jato de água subiu até o céu, fazendo chover sobre as chamas.
Todos olhavam aquela cena. Logo as cinzas seriam carregadas pelo vento e nada restaria, a não ser terra revirada.
Mas não foi isso o que aconteceu.
Quando os seres alados fizeram ventar, a fuligem se foi, e o que sobrou foi uma grande e forte estrutura feita de pedras pesadas. As torres possuíam vitrais coloridos e molduras de ferro fundido. Todas as portas eram feitas de grossas folhas de madeira maciça, e seus adornos pareciam ter sido esculpidos à mão, e lá dentro, onde parecia ser exatamente o meio do lugar, havia a figura de uma grande Rosa-dos-Ventos, desenhada no chão de mármore, que parecia com um grande espelho, de tanto que brilhava. Tudo estava impecável.
À distância, quatro homens assistiam, cada um ao lado de uma bela jovem e a visão lhes agradava. Por eles, uma ordem foi dada e, depois de uma pequena reunião, todos entraram no castelo.